segunda-feira, agosto 23, 2004

sobre o arrependimento

se matasse, ai de mim!
mas enquanto isso a vida segue, agente tropeça, às vezes cai, se estabaca no chão, aí levanta, vê que algumas coisas dão certo, que algumas escolhas foram bem feitas e se agarra nisso com unhas e dentes, porque a gente é mortal, fraquinho e bobo.
fiz merda? fiz! muita! desisti e voltei atrás com o rabinho entre as pernas, mas sem nunca saber mesmo se tomei a decisão certa. azar do goleiro.
Torturava-se com recriminações, mas terminou por se convencer de que era no fundo normal que não soubesse o que queria: nunca se pode saber aquilo que se deve querer, pois só se tem uma vida e não se pode compará-la com as vidas anteriores nem corrigi-la nas vidas posteriores.
Não existe meio de verificar qual é a boa decisão, pois não existe termo de comparação. Tudo é vivido pela primeira vez e sem preparação. Como se um ator entrasse em cena sem nunca ter ensaiado. Mas o que pode valer a vida, se o primeiro ensaio da vida já é a própria vida? É isso que faz com que a vida pareça sempre um esboço. No entanto, mesmo "esboço" não é a palavra certa porque um esboço é sempre um projeto de alguma coisa, a preparação de um quadro, ao passo que o esboço que é a nossa vida não é o esboço de nada, é um esboço sem quadro.
Tomas repete para si mesmo o provérbio alemão: einmal ist keinmal, uma vez não conta, uma vez é nunca. Não poder viver senão uma vida é como não viver nunca.
Já dizia o Kundera (Insustentável, p. 14)

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